Faltavam 88 dias para terminar o
ano de 1970, no século passado. Quatro de outubro. Data que calava a voz inigualável da menina que havia estado no Brasil alguns meses
antes, fevereiro, na tentativa de livrar-se do vício da heroína. Menina que foi
expulsa do Copacabana Palace por nadar nua na piscina; que por sua maneira
agressiva de vestir foi barrada por um segurança de uma escola de samba; que
fez topless na praia de Copacabana;
que se entregou ao roqueiro Serguei, que ainda hoje falto de caráter se promove
utilizando-se esse encontro, pior, o faz com estampas em camisetas com frases
chulas; menina que bebeu e cantou num bordel brasileiro; que não apareceu no estúdio
para gravar. Uma overdose de heroína combinada com o efeito do álcool a calou
para sempre. E com ela os temas de perda e de dor que marcaram canções como The
Rose, que emprestou o nome ao filme baseado em sua vida. Antes dela Robert
Johnson, Brian Jones, Jimi Hendrix, e depois, Jim Morrison, Kurt Cobain e Emy
Winehouse. Todos aos 27 anos de idade. Todos com a mesma causa mortis: degradação biológica pela combinação de álcool e
droga.
Janis Joplin - The Rose
Janis Lyn Joplin nasceu em 19 de
janeiro de 1943, em Port Arthur, uma pequena cidade do Texas, EUA. Filha de um
funcionário da Texaco e de uma secretária de uma faculdade local. Tinha dois
irmãos, Laura e Michael, e desde cedo requereu mais atenção dos pais. Gostava
de poesia e pintura, amava a música. Como quase toda cantora norte-americana
iniciou carreira no coral de uma igreja. Uma adolescência quieta, introspectiva e
solitária. Assim que as espinhas apareceram juntamente com a indiscrição da
balança a rebeldia se fez presente, e com ela, roupas extravagantes bem
diferentes do uso da época, indo desde camisas masculinas a curtíssimas
minissaias, o que lhe fez vítima de bullling na escola. Além de rejeitada pelos
colegas era chamada de porca, estranha, esquisita, promíscua. Assim que passou
a cantar nos bares de sua cidade encarnou um personagem de menina durona,
agressiva, encrenqueira, que gostava de beber e zoar as pessoas. Iniciou alguns
cursos de graduação, porém, nenhum concluído. De crooner do Walter Creek Boys, trio formado na cidade de Austin,
em 1963, partiu para a cidade de São Francisco. Ali, a extravagância chegou ao
extremo. Bebia compulsivamente e usava drogas pesadas como a heroína. Vida desregrada e autodestrutiva. Chegou a ser internada. Em 1966 passou a
integrar o grupo Big Brother &
Halding Company, destacando-se no ano seguinte no festival de Monterrey
como melhor intérprete na opinião do público com a música Ball and Chain, que lhe valeu as capas das revistas Time e Newsweek. Em setembro de 1970, a primeira mulher a quebrar
paradigmas e fazer sucesso no mundo masculino do rock foi vista pela última vez
em público, em sua cidade natal, quando da comemoração do décimo ano de
formatura de sua turma do colégio. Ana Beatriz Barbosa Silva, faz uma referência a esta aparição em seu livro 'Corações Descontrolados - ciúmes, raiva, impulsividade: o jeito borderline de ser' - 'Ela estava ansiosa por aquele momento, para mostrar às pessoas que tanto a hostilizaram que ela era um grande sucesso'.
Janis Joplin em Monterrey - Ball and Chain
‘Porque eu não canto como as outras cantoras? Não sei, talvez porque não
fique na superfície das melodias, porque eu entre na música, eu canto com a
minha alma, com o meu corpo, com o meu sexo... Eu canto toda!’ declarou
certa feita.
Luiz Humberto Carrião (l.carriao@bol.com.br)
Nenhum comentário:
Postar um comentário