14 de outubro de 2013

JÂNIO E A PETROBRÁS, José de Bálsamo: Fulgor. São Paulo. 1960.

Documentos decretos da política brasileira

A Petrobrás foi criada pelo presidente Getúlio Vargas através da Lei 2.004, de três de outubro de 1954, estabelecendo o monopólio estatal do petróleo para a exploração, refinação, transporte e lavra do petróleo. Foi constituída como empresa sociedade anônima, possuindo o Estado mais da metade do número de ações.

Em 1959, o faturamento da empresa foi de 37 bilhões de cruzeiros, aproximadamente o orçamento do Estado de São Paulo, no ano anterior; a capacidade de produção de asfalto na usina de Cubatão foi de 116 milhões de toneladas anuais, uma produção maior que o consumo nacional; a produção de fertilizantes (adubos) foi de 100 mil toneladas; Em 1957 a produção americana era de 12,1 barris de petróleo por poço/dia, o Brasil 261 e a Venezuela 175,9. Em porcentagens do consumo nacional atendida pela produção nacional, gás liquefeito 73%, gasolina automotiva 79%, querosene 57%, óleo diesel 39%, óleo combustível 74%, asfalto 100%. A Petrobrás surge como a maior organização industrial do Brasil. Em 5 anos de funcionamento já era a 8ª companhia  de petróleo e derivados do mundo.

O que significavam esses números para o império ianque? Um alerta. As posições nacionalistas da era Vargas e as desenvolvimentistas de JK teriam que ser estancadas. Eleições se avizinhavam. Que melhor candidato poderia existir, senão aquele que tivesse ojeriza ao empreendimento estatal. Frear a Companhia Nacional de Alcalis, que já no ano de 1957, libertou o país da importação de diversos bens da indústria química pesada; frear a usina de Volta Redonda - símbolo de nossa industrialização com 2 milhões de toneladas de aço anuais; frear FNM – Fábrica Nacional de Motores – que iniciou a produção de caminhões pesados, produzidos aqui! Frear a ampliação da Usina de Paulo Afonso, de suma importância para o nordeste. Não foi difícil encontrar esse candidato!


Eu tenho verdadeiro pavor de todo empreendimento industrial que o estado dirija’. Com estas palavras o governador paulista Jânio Quadros, na leitura do autor, dava início a uma das maiores ofensivas jornalísticas contra o Estatismo e a Petrobrás.

O leitor poderá pensar’, assevera o autor, 'mas será que uma série de entrevistas terá ressonância que o autor quer atribuir ou ele está exagerando? A realidade é que não era uma campanha isolada e restrita a um só jornal, mas uma campanha de âmbito nacional, precisa e perfeitamente planejada’. Eram matérias pagas reproduzidas em diversos jornais brasileiros ligado aos trustes contra o Estatismo e a Petrobrás.

Solicitação de transcrição da entrevista de Otávio de Bulhões no jornal A Noite (27.06.57) ‘Os que pedem o monopólio estatal não confiam na força do Estado através do governo’, paga pela Cia de Carris, Luz e Força Société Anonyme Du Gaz.

Conclusões do autor:
1 – A campanha anti-estatista tinha a finalidade precípua de atingir a Petrobrás;
2 – Esta campanha era dirigida e financiada pelas companhias estrangeiras, mancomunadas com jornais nacionais, em defesa de seus incontestáveis interesses econômicos;
3 – A escolha de Jânio Quadros, ‘um dos grandes canhões contra a Petrobrás’, dava ao referido candidato, incontestavelmente, em virtude de sua posição política, a liderança do entreguismo no Brasil; e, finalmente,
4 – O apoio dado em entrevistas posteriores por Eugênio Gudin, Otávio de Bulhões, e outros, mostram que a ‘trouppe’ ainda é a mesma do senhor Café Filho.

Algumas supostas declarações do candidato Jânio da Silva Quadros sobre a Petrobrás, o Nacionalismo e Estatismo brasileiros que, segundo o autor, não foram desmentidas:

Esse nacionalismo, e principalmente, esse estatismo é uma grande farsa e uma grande chantagem’.

‘Esse negócio de Petrobrás no século da energia atômica, vai nos levar ao mesmo estado da Inglaterra com o carvão’.

 ‘Disse o Sr. Jânio Quadros que se fosse presidente da república acabaria com a Petrobrás’, Correio da manhã, 17/agosto/1958.

‘Um bom amigo do Brasil’, Jânio Quadros em entrevista à ‘United Press’ reproduzida em 4/junho/1959 pelos jornais brasileiros Correio da manhã e Diário de Notícias. Jânio na entrevista fazia referencia a Nelson Rockfeller, magnata da Standart Oil.

No ano de 1958, foi instituída uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar as atividades políticas das multinacionais do petróleo Shell e Esso, durante os anos de 1956 e 1957, que conseguiu revelar a promiscuidade entre elas e os grandes jornalões brasileiros do Rio e de São Paulo. Em sua oitiva pela CPI o senhor Armando de Moraes Sarmento, presidente da Mc Cann Erickson, agência americana de publicidade que atuava no Brasil, revelou o valor das contas de campanhas publicitárias distribuídas aos jornais brasileiros, referente ao ano de 1957. 


Observem que o valor era repassado em valor unitário por exemplar, onde a companhia estrangeira desembolsava quatro vezes mais do que o leitor comum pagava na banca de jornal. E com um detalhe, os números não levaram em conta o lucro do jornaleiro que era de 30%. Qual seria o interesse de um investimento nesses moldes, e não, o convencional que é um espaço vendido em centímetros quadrado, onde os valores variam em conformidade com o espaço onde o anúncio e veiculado? Era o interesse da opinião da multinacional prevalecendo sobre os interesses da Petrobras, consequentemente, da sociedade brasileira, a verdadeira proprietária da Petrobrás.

As matérias veiculadas sempre criticando a intervenção estatal nos setores básicos da economia; defendendo intransigentemente a livre iniciativa; a participação de capital estrangeiro como alavanca para o desenvolvimento do país; condicionando o nosso subdesenvolvimento a questões de austeridade e moralidade, desviando a opinião pública das verdadeiras razões do atraso, a submissão a um modelo imperialista; o constante alerta ao perigo da infiltração comunista, ou a expansão do comunismo-nacionalista, e, defensores intransigentes da candidatura de Jânio Quadros. 

A análise se refere somente a uma multinacional das 1477 que atuavam no Brasil.

Qualquer semelhança entre o que é relatado por José de Bálsamo, na década de 1950 e 1960 do século passado, em Jânio e a Petrobrás e o atualmente pelos jornalistas Aloysio Biondi em Brasil Privatizado, Amaury Ribeiro em A Privataria Tucana e Palmério Dória em O Príncipe da Privataria, não se trata de mera coincidência. Não! São ações levadas a efeito por inescrupulosos apátridas que, mancomunados com os interesses estrangeiros se aliam à grande mídia para vender ou doar o Brasil.

Luiz Humberto Carrião (l.carriao@bol.com.br) 



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