Reflexões ultrapassadas?
Um livro chama a atenção pelos comentários na mídia, pelo título ou pela beleza da capa. Este me chamou a atenção pelo preço, R$1,00, isto mesmo, um real. Onde? Numa loja dessas que comercializam livros usados, os Sebos. Pode até ser que o título, “Imaginar a Igreja”, após a meteórica visita do papa Francisco ao Brasil tenha também chamado minha atenção.
Abrindo aleatoriamente suas
páginas deparo com um questionamento:
1. Será
possível ter fé sem fazer calar o ser inteligente que habita em nós?
2. Será
verdadeiro o ‘acto’ de fé que é condicionado pela estrutura social e ideológica
de uma Igreja?
3. Será
compatível a afirmação personalizada da fé com a aceitação de ideias e ‘factos’
que não é possível verificar ‘directamente’?
4. Em
outros termos: será a fé uma ‘alienação’ da liberdade?
Fé (do latim fides = fidelidade) pela absoluta confiança, sem qualquer tipo de
prova ou verificação, acompanhada de absoluta abstinência de dúvida, ela é a
firme opinião de que algo é verdadeiro. (Rayalties a WikipédiA).
Como contributo para resposta aos
questionamentos a explicitação do conceito de liberdade se faz necessário,
segundo a autora, para quem a liberdade que a distingue como pessoa não é a
capacidade de decidir sobre isto ou aquilo, mas a capacidade de reconhecer,
aceitar e situar-se. “Tal liberdade não é um instrumento a utilizar apenas em
circunstâncias especiais da vida – ela é o tecido da minha própria existência”.
Jesus é visto na obra como o
acontecimento central da vida pessoal e da história coletiva do mundo
ocidental. Abriu o caminho de uma vida humana inteiramente realizada, porque
Cristo foi um de nós.
Ser Cristão é realizar-se. Ser
Igreja é propiciar essa realização coletiva.
A autora ao falar da “Teologia do
Laicado” apresenta como marco inicial o célebre livro “Verdadeira e falsa
reforma da Igreja”, de Yves Marie-joseph Congar, teólogo dominicano,
correspondendo à substituição da ‘Teologia ciência da verdade de Deus’, pela ‘Teologia
ciência da revelação constante de Deus’, onde o homem passou a significar alguma
coisa nessa revelação divina. “A eles se atribuía a própria continuidade da
Redenção iniciada por Jesus Cristo”.
O papa João XXIII ao propor o
Concílio Vaticano II usou a palavra ‘aggiornamento’ na tarefa de repensar a
Igreja para o mundo. “Daí que não fizesse mais sentido falar em cristãos ‘ao
serviço da Igreja’, mas sim, em comunidades de crentes ao serviço do mundo”. O
progresso técnico alcançado durante e após a II Grande Guerra Mundial elaborou
uma nova Teologia, a ‘Teologia das realidades terrestres’. “O lugar da
responsabilidade era obviamente o mundo na significação que adquiria à luz de
uma nova teologia”. E hoje, a teologia em pauta é a ‘Teologia da Libertação’,
embora o papa Francisco tenha evitado mencioná-la. Aliás, substituiu a
expressão “pelos pobres” para “dos pobres”.
Finalmente, a Teologia Política. “É
uma teologia de homens em comunidade. Acaba de vez com os ‘iluminados’ de quem
nenhuma luz irradia; diz aos ‘individualistas’, desejosos de preservarem o seu ‘mundo’,
que esse mundo não existe porque o verdadeiro mundo diz respeito a todos os
homens; deixa de lado os que não encontram ‘saída’ porque ao matarem a
esperança renunciaram à imaginação e à capacidade de inventar a história e
decidiram assim ficar à margem da própria história. A Teologia Política convida
os homens a serem em comunidade, a construírem juntos o ‘projecto’ de sua
existência. Convida o homem e a mulher a serem permanentemente ‘activos’ no
amor, recriando-o. Convida os novos e os velhos a dizerem-se as verdades
antigas sempre novas e as verdades acabadas de nascer e com esse cimento a edificarem
um mundo novo. Convidam as gentes dos campos e das cidades, os trabalhadores
das ideias e os trabalhadores das coisas, a dar o que têm e o que são numa
interdependência consentida e procurada. Haverá, sem dúvida, em tal ‘Teologia
Política’, elementos de conflito, mas, através deles, percebem-se melhor os
contornos dos gestos e dos ‘factos’ e firma-se mais sólida a esperança do mundo
novo. Então, como alguém dizia num encontro do Graal, ‘todos somos teólogos’
não porque isso nos traga mais prestígio (ou mais diplomas), mas porque aumenta
a nossa responsabilidade de sermos Igreja. E mesmo nas situações de aparente ‘impasse’,
essa responsabilidade levará a cantar o canto de esperança no mundo que ‘há-de’
vir e que já esta misteriosamente entre nós”.
Não se trata da simples
substituição do binômio ‘Igreja – Estado’ pelo ‘Evangelho e ação política’.
Não! A Teologia Política busca a consciência em cada um dos seres humanos para
a possibilidade da auto-realização. E a faz referenciado em um exemplo: o de
Jesus, o Cristo.
Finalmente, uma revelação: “O
pressuposto de que o cristianismo hoje abraça um ‘projeto revolucionário’ está
a tornar-se cada vez mais universal. Esse pressuposto supõe que o cristão se
situa já na esfera da originalidade do cristianismo. Supõe que o cristão faz
uma leitura da sociedade e da história em termos universais. Sempre afirmou
acreditar numa Igreja ‘católica’ que, dizia, correspondia a universal. Hoje, o
dizê-lo, sabe que, como parte dessa Igreja, é responsável perante a fome de
milhões de homens, perante a violência a que se encontra submetido o destino da
maioria, perante a ausência de meios de valorização de muitos por causa dos
privilégios de alguns, perante as interdependências que se jogam ao plano
internacional e que vêm ‘afectar’ a situação mais limitada e localizada”.
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