18 de agosto de 2013

IMAGINAR A IGREJA, Maria de Lourdes Pintasilgo. Editora Multinova. Lisboa. 1980. 122 páginas.


Reflexões ultrapassadas?

Um livro chama a atenção pelos comentários na mídia, pelo título ou pela beleza da capa. Este me chamou a atenção pelo preço, R$1,00, isto mesmo, um real. Onde? Numa loja dessas que comercializam livros usados, os Sebos. Pode até ser que o título, “Imaginar a Igreja”, após a meteórica visita do papa Francisco ao Brasil tenha também chamado minha atenção.

Abrindo aleatoriamente suas páginas deparo com um questionamento:
1.     Será possível ter fé sem fazer calar o ser inteligente que habita em nós?
2.     Será verdadeiro o ‘acto’ de fé que é condicionado pela estrutura social e ideológica de uma Igreja?
3.   Será compatível a afirmação personalizada da fé com a aceitação de ideias e ‘factos’ que não é possível verificar ‘directamente’?
4.     Em outros termos: será a fé uma ‘alienação’ da liberdade?

Fé (do latim fides = fidelidade) pela absoluta confiança, sem qualquer tipo de prova ou verificação, acompanhada de absoluta abstinência de dúvida, ela é a firme opinião de que algo é verdadeiro. (Rayalties a WikipédiA).

Como contributo para resposta aos questionamentos a explicitação do conceito de liberdade se faz necessário, segundo a autora, para quem a liberdade que a distingue como pessoa não é a capacidade de decidir sobre isto ou aquilo, mas a capacidade de reconhecer, aceitar e situar-se. “Tal liberdade não é um instrumento a utilizar apenas em circunstâncias especiais da vida – ela é o tecido da minha própria existência”.

Jesus é visto na obra como o acontecimento central da vida pessoal e da história coletiva do mundo ocidental. Abriu o caminho de uma vida humana inteiramente realizada, porque Cristo foi um de nós.

Ser Cristão é realizar-se. Ser Igreja é propiciar essa realização coletiva.

A autora ao falar da “Teologia do Laicado” apresenta como marco inicial o célebre livro “Verdadeira e falsa reforma da Igreja”, de Yves Marie-joseph Congar, teólogo dominicano, correspondendo à substituição da ‘Teologia ciência da verdade de Deus’, pela ‘Teologia ciência da revelação constante de Deus’, onde o homem passou a significar alguma coisa nessa revelação divina. “A eles se atribuía a própria continuidade da Redenção iniciada por Jesus Cristo”.

O papa João XXIII ao propor o Concílio Vaticano II usou a palavra ‘aggiornamento’ na tarefa de repensar a Igreja para o mundo. “Daí que não fizesse mais sentido falar em cristãos ‘ao serviço da Igreja’, mas sim, em comunidades de crentes ao serviço do mundo”. O progresso técnico alcançado durante e após a II Grande Guerra Mundial elaborou uma nova Teologia, a ‘Teologia das realidades terrestres’. “O lugar da responsabilidade era obviamente o mundo na significação que adquiria à luz de uma nova teologia”. E hoje, a teologia em pauta é a ‘Teologia da Libertação’, embora o papa Francisco tenha evitado mencioná-la. Aliás, substituiu a expressão “pelos pobres” para “dos pobres”.

Finalmente, a Teologia Política. “É uma teologia de homens em comunidade. Acaba de vez com os ‘iluminados’ de quem nenhuma luz irradia; diz aos ‘individualistas’, desejosos de preservarem o seu ‘mundo’, que esse mundo não existe porque o verdadeiro mundo diz respeito a todos os homens; deixa de lado os que não encontram ‘saída’ porque ao matarem a esperança renunciaram à imaginação e à capacidade de inventar a história e decidiram assim ficar à margem da própria história. A Teologia Política convida os homens a serem em comunidade, a construírem juntos o ‘projecto’ de sua existência. Convida o homem e a mulher a serem permanentemente ‘activos’ no amor, recriando-o. Convida os novos e os velhos a dizerem-se as verdades antigas sempre novas e as verdades acabadas de nascer e com esse cimento a edificarem um mundo novo. Convidam as gentes dos campos e das cidades, os trabalhadores das ideias e os trabalhadores das coisas, a dar o que têm e o que são numa interdependência consentida e procurada. Haverá, sem dúvida, em tal ‘Teologia Política’, elementos de conflito, mas, através deles, percebem-se melhor os contornos dos gestos e dos ‘factos’ e firma-se mais sólida a esperança do mundo novo. Então, como alguém dizia num encontro do Graal, ‘todos somos teólogos’ não porque isso nos traga mais prestígio (ou mais diplomas), mas porque aumenta a nossa responsabilidade de sermos Igreja. E mesmo nas situações de aparente ‘impasse’, essa responsabilidade levará a cantar o canto de esperança no mundo que ‘há-de’ vir e que já esta misteriosamente entre nós”.

Não se trata da simples substituição do binômio ‘Igreja – Estado’ pelo ‘Evangelho e ação política’. Não! A Teologia Política busca a consciência em cada um dos seres humanos para a possibilidade da auto-realização. E a faz referenciado em um exemplo: o de Jesus, o Cristo.

Finalmente, uma revelação: “O pressuposto de que o cristianismo hoje abraça um ‘projeto revolucionário’ está a tornar-se cada vez mais universal. Esse pressuposto supõe que o cristão se situa já na esfera da originalidade do cristianismo. Supõe que o cristão faz uma leitura da sociedade e da história em termos universais. Sempre afirmou acreditar numa Igreja ‘católica’ que, dizia, correspondia a universal. Hoje, o dizê-lo, sabe que, como parte dessa Igreja, é responsável perante a fome de milhões de homens, perante a violência a que se encontra submetido o destino da maioria, perante a ausência de meios de valorização de muitos por causa dos privilégios de alguns, perante as interdependências que se jogam ao plano internacional e que vêm ‘afectar’ a situação mais limitada e localizada”.

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