Marx foi contratado em 1857 por
Charles Dana, diretor do New York Daily Tribune, para escrever sobre temas de
história militar, biografias e outros assuntos váriados na New American
Cyclopaedia, onde coube a redigir o verbete sobre Simón Bolívar. O livro é
aberto por uma introdução – O Bolívar de Marx – de autoria de José Aricó, intelectual
marxista argentino, seguido do texto de Marx - Bolívar y Ponte – e, finalmente,
o Epílogo assinado por Marcos Roitman Rosenmann e Sara Martinez Cuadrado,
professores da Faculdade de Ciências Políticas e Sociologia da Universidade Complutense,
de Madri. Dialogar sobre um mito, discutir um mito é algo plenamente aceitável,
porém, contestar o mito já não é bem assim. O trabalho de Marx neste verbete
foi encontrado por Aníbal Ponce, nos arquivos de Marx-Engels-Lenin, de Moscou,
numa tarde de fevereiro de 1935. Fazendo a leitura de que a história de Bolívar
encontra ‘envolta numa espessa nuvem de lendas’, e suas ideias
hispano-americanas ‘de criar uma federação com todos os povos da cultura
espanhola’ fez escola, resolveu trazê-lo ao público latino. Para uns, ‘uma
avaliação política induziu Marx a interpretar Bolívar como autoritário e
bonapartista, e a projetar sua hostilidade política, como costumava a fazer, no
conjunto das atividades e até na própria personalidade do Libertador, a quem
ele zombou encarniçadamente ao longo de seu extenso ensaio’. Para outros, Marx
visualizou que naquele processo histórico, que ‘a ordem imposta pela vontade de
Deus não pode ser alterada pela vontade dos homens. Com esses postulados,
Bolívar restabeleceu a escravidão e procedeu à expulsão dos povos indígenas das
terras comunais. A propriedade latifundiária consolidou-se e os povos indígenas
foram despojados de suas terras. Com todos esses antecedentes, poderia Marx ter
outra imagem do Ditador Supremo?’ Marx apresenta uma biografia de Bolívar bem
diferente daquela que o transformou em mito pela historiografia latino-americana.
Um texto de fôlego que precisa ser conhecido e discutido por cientistas sociais
e historiadores.
Luiz Humberto Carrião
(l.carriao@bol.com.br)
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